segunda-feira, 5 de agosto de 2013


De Caim e Abel a Félix e Paloma: a rivalidade entre irmãos



por Ana Cássia Maturano |
categoria Família

Quem tem mais de um filho sabe como é difícil agradar a todos. Estão sempre reclamando que o irmão tem vantagens, é o preferido dos pais etc. A rivalidade fraterna é bíblica, remonta a Caim e Abel, primeira dupla de irmãos de que se tem notícia.
Segundo a bíblia, eles eram filhos de Adão e Eva – Caim era lavrador e Abel, pastor. Ambos faziam ofertas a Deus, que sempre mostrava maior apreço por Abel (segundo consta, dava-lhe suas melhores ovelhas, diferente do irmão, a quem lhe oferecia as sobras). Enciumado por não ser o preferido de Deus, Caim matou o irmão.
Este tema tem sido revivido na novela Amor à Vida com os personagens de Paloma e Félix. Extremamente invejoso da irmã por ser a preferida do pai, o rapaz não economiza em suas maldades. Aproveita as oportunidades que surgem para prejudicá-la, sempre tentando garantir ganhos materiais, principalmente a herança (talvez imagina que assim terá o pai).
Nem sempre conseguimos lidar com tranquilidade com essa questão. Isso é vivido na maioria dos lares. Quando nascemos, nossos primeiros objetos de amor são os pais, o irmão surge como um intruso que veio dividir (ou até roubar) essas pessoas.
Os progenitores se esforçam para garantir que nenhum seja lesado nesta história e, para tanto, procuram sempre oferecer-lhes tudo igual. A impressão é de que nunca conseguem. Outro dia, uma adolescente me contou que na sua casa é assim: o que a irmã ganha de outra pessoa, o pai dá igual para ela e vice-versa – tudo é sempre igual.
Muitos pais caem nessa e acham que proporcionar as mesmas coisas materiais amenizará os ânimos. Assim como o Félix, que enxerga em coisas materiais o reconhecimento que não tem de seu pai.
Às vezes, algo nos escapa a compreensão: os filhos querem ser únicos e não ser ou ter tudo igual ao irmão. Neste sentido, algumas coisas podem ser feitas para amenizar o conflito entre eles.
Um exemplo é poder dedicar um tempo exclusivo só para um deles, sem lembrar que o outro existe. Fazer coisas de seu interesse, num momento em que ele seja o foco. Numa outra oportunidade, fazer com o outro também.
Outro aspecto que se costuma negar é que pode haver a identificação maior de um dos pais com um ou outro filho – naturalmente ele lhe dá mais atenção, mesmo amando todos com a mesma intensidade. Algumas atitudes denunciam isso, atiçando a rivalidade. Vale a pena prestar atenção nas situações em que fica claro o ciúme para poder perceber o que o desencadeou. Assim, será possível aos pais agirem de outra maneira.
Ver os filhos brigando é tão aflitivo para alguns pais que eles acabam por determinar o que eles sentem e dizem coisas do tipo: “Você ama seu irmão, diga isso para ele… Pronto, agora se abracem e tudo ficará bem.” Ora, nada ficará muito bem. O que ele sente é que é menosprezado, que não é compreendido. Da próxima vez, bater mais forte no irmão poderá deixar seus sentimentos mais claros.
Abrir uma possibilidade para que sentimentos negativos sejam ditos é uma ideia interessante. Quando as coisas saem por palavras, não há necessidade de serem expressas pela ação.
De todo modo, isso é algo comum e até certo ponto saudável. O que se vive dentro de casa, entre pais e irmãos, é um aprendizado para a vida. A rivalidade, quando ocorre dentro de uma base amorosa, garante que a relação não seja destruída (brigam, brigam, mas estão sempre juntos), o que dá certo alívio. Possibilita que se defendam em outros contextos, sem que se sintam culpados.
Como bem disse uma mãe de três meninos ao comentar suas brigas: “Sinto-me aliviada quando brigam, pois estão prontos para se defenderem na vida.”

A onipotência dos jovens pode colocá-los em perigo



por Ana Cássia Maturano |

O ataque de tubarão que vitimou a jovem Bruna Gobbi foi assunto numa roda de amigos. Um deles estava impressionado, pois havia morado exatamente no prédio em frente ao local do acidente. Confirmou o quão perigoso era nadar naquelas águas. A conversa enveredou para o lado do destino. Lembraram a tese de que ele está escrito, não podendo ser mudado.
Sem acreditar nesta ideia ou querer culpar algo ou alguém pelo ocorrido – destino, tubarão, governo, placas, corrente de água, a própria Bruna, ou qualquer outra coisa – o que realmente ocorreu nunca saberemos ao certo. Porém, o assunto propicia uma reflexão sobre os adolescentes. Mais especificamente um aspecto comum a eles: a onipotência.
A adolescência é a época de oposição às figuras de autoridade e de experimentar ser dono de seu próprio nariz. Os jovens costumam sentir serem invencíveis, donos da razão e imunes a qualquer coisa – acham que estão no controle. O que os coloca, muitas vezes, em risco. Um exemplo é o consumo de álcool e drogas. Naquela ideia de que sabem seus limites, de que já são “adultos”, muitos entram em enrascadas, seja tomando porres homéricos, seja tornando-se dependentes das mais variadas drogas.
O mesmo se percebe com a sexualidade. Apesar de informados sobre doenças sexualmente transmissíveis e o risco de gravidez, muitos ainda não usam preservativos.
Com as vítimas dos incidentes com tubarões nas praias do Recife parece que esta tese faz sentido: nos últimos 20 anos, 70% delas tem entre 14 e 25 anos.
No caso de Bruna, ela e seu grupo haviam sido avisados do perigo de nadarem onde estavam. Inclusive, há placas avisando sobre os tubarões. Mesmo assim, arriscaram-se. E deu no que deu.
Apesar de poderem fazer muito mais coisas que antes, o que os jovens precisam entender é que eles não são blindados. Caso não tomem os cuidados necessários, eles correm os mesmos riscos que as outras pessoas. Inclusive de morrer como a Bruna. Morrer não é privilégio dos idosos.
É muito triste o que aconteceu. À família, só podemos desejar que possam superar essa perda.

Diagnóstico de doença fatal não deve ser sentença de morte



por Ana Cássia Maturano |

O tom dado por algumas pessoas às suas vidas não vai além de problemas. Varia entre uma dor de dente, um pneu furado ou o barulho que aquele vizinho chato costuma fazer. Não há nada de bom para alegrar a existência. Mesmo que tenha, não conseguem notar. Os contratempos, se não existem, são arranjados. O mantra da reclamação parece eterno. Perdem seu precioso tempo reclamando da vida, esquecendo-se de vivê-la. Chegam a perdê-lo de tanto se queixarem de sua falta.
O mundo tem muitas pessoas assim. Por mais que tenhamos apreço por algumas, o peso que deixam no ambiente cansa. Caso uma delas encontre um problema insolúvel pela vida, imagino que seria a glória: encontrou algo de peso, pelo qual sofrer de verdade (não é a isso que sempre se dedicou?). Ou, pelo contrário, estaria derrotada. Apesar de tantas lamentações, a maioria de seus problemas tinha solução.
O problema insolúvel a que me refiro, seria o diagnóstico de uma doença fatal. Como o câncer, por exemplo. Para alguns, não passa de uma sentença de morte – entregam-se ao destino. Para outros, contrariamente, funcionam como fonte de inspiração para viver, aproveitando o máximo possível o tempo que têm. Procuram ser felizes e encontram uma razão para viver, não sabendo se será muito ou pouco.
É o caso da garota americana Talia Joy Castellano de 13 anos, que morreu semana passada. Ela lutou contra o câncer desde os sete anos, mas não deixou de viver por isso, “morrendo” antes da hora. Pelo contrário. Achou algo que a fez deixar sua marca na vida: aprendeu a se maquiar, fez vídeos em que ensinava esta habilidade a outros e os postou no You Tube. Mais de 750 mil pessoas a seguiram.
Na Inglaterra, Alice Pyne de 17 anos viveu quatro anos com um quadro sem cura. Ao invés de cruzar os braços, listou inúmeras coisas que gostaria de fazer na vida e cumpriu várias. Não deu tempo de realizar tudo. Provavelmente um recorde para muitos octogenários.
Em nosso país temos exemplos também, como o de Alexandre Mendes de 21 anos. Com um tumor no cérebro e passando por tratamentos penosos, foi aprovado em um dos mais disputados vestibulares. Rubens de Cássio Reis Marques fez o exame do Enem no hospital onde se tratava de um câncer na costela. E por aí vai…
Apesar do sofrimento, ao invés de se revoltarem com algo que seria compreensível, resolveram viver a vida. Para isso se propuseram um projeto, algo a que realmente dedicar suas energias. Não lhes sobrou tempo para lamentações. Provavelmente foram e são felizes.
Mesmo assim, Alice Pyne se lamentou quando percebeu que perderia a batalha e escreveu em seu blog: “É uma pena, porque há tanta coisa que eu ainda queria fazer.”
Esses são os bons exemplos para seguirmos: buscarmos algo para sermos felizes de verdade, com um projeto de vida, aproveitando cada minuto que temos. Nossa existência é curta, não temos tempo para perder com lamentações. Vale a pena aproveitarmos o que temos.

Pais temem mostrar fragilidade e lado ‘menos herói’ aos filhos



por Ana Cássia Maturano |

No programa da Ana Maria Braga existe um quadro chamado Fashion Express, em que alguém pede para que uma peça de roupa seja transformada. Muito afeiçoada a sua avó já falecida, uma jovem solicitou a transformação de uma camisola que pertenceu a ela. A garota falou de todo seu carinho pela dona da peça. Com lágrimas nos olhos, agradeceu sua própria mãe por ter cuidado dela.
Emocionei-me com essa parte. Provocou lembranças de minha própria história. Sempre presenciei os cuidados que foram dispensados pelos mais jovens aos idosos em minha família e em outras. Nunca pensei que pudesse ser diferente. Sabemos que não é assim que as coisas funcionam. Nem sempre há disponibilidade de se cuidar dos outros, principalmente dos mais velhos.
Cuidar de crianças, apesar do trabalho, é algo estimulante. As pessoas se sentem renovadas. Entra-se em contato com a esperança das inúmeras possibilidades que a nova vida promete. Ao cuidar de alguém mais velho, com limitações ou doente, deparamo-nos com nossa própria finitude, a decaída do corpo e da mente. Nem sempre é algo fácil emocionalmente. Por isso, opta-se, muitas vezes, por internar o idoso.
No entanto, há outro lado nem sempre vislumbrado: o desconforto que os pais têm de serem cuidados por seus filhos. Não só no aspecto físico, quando se está mais idoso. Mas de receber ajuda de qualquer espécie. Sentem-se atrapalhando a vida deles. Quando isso acontece, pelas mais diversas razões, sofrem, rejeitam a ajuda e chegam a esconder suas dificuldades. Mesmo que os filhos tenham o desejo de se dedicarem a eles. Talvez, temam mostrar seu lado mais humano e menos super-herói.
Penso que os filhos cuidarem dos pais deva ser algo natural, seja da parte do filho de se oferecer para tal, seja da parte dos pais de aceitarem. Isso é família, uns cuidam uns dos outros.
Não há problema algum em mostrarmos nossa fragilidade para nossos descendentes, principalmente quando ficamos assim. Essa é a condição de todos. E será a deles também.
Mostrar a necessidade a um filho e aceitar sua ajuda, também é criá-lo para a realidade. Não é escondendo as verdades da vida que elas serão diferentes. Até porque, se cada um cuidar dos seus – sejam filhos ou pais – muitos problemas em nossa sociedade estariam resolvidos. Não basta apenas reivindicarmos assistência das autoridades, temos que exercê-la em nossa própria família.

Fuja dos modismos e tire as fraldas das crianças no tempo certo



por Ana Cássia Maturano |

Por esses dias, li uma reportagem sobre um método de ensinar bebês, no primeiro mês de vida, a usar o penico. Chamado de higiene natural, consiste em ficar atento aos sinais que a criança dá quando vai fazer xixi ou cocô para, quando surgirem, levá-la rapidamente ao vaso.
Para mim isto é uma novidade. Nunca havia ouvido falar. Curiosa, pesquisei sobre o tema. Não vi muita coisa, principalmente dados mais científicos. Em verdade, esse método parece contrariá-los.
Os defensores apontam algumas vantagens: é econômico; menos poluente por não descartar fraldas; menos trabalhoso, pois não é preciso lavá-las, embora imagino que ficar a maior parte do dia atento aos sinais de uma criança seja mais custoso; e o principal é propiciar o estreitamento dos laços entre pais e filhos, visto que se estabelece uma comunicação entre eles.
As vantagens são mais de ordem econômica. Poucos são os benefícios para a criança. Se pensarmos no aspecto da comunicação, considerando principalmente a dupla mãe/bebê, ela já se dá durante a gravidez. Tanto é assim que, ao nascer, os pequenos reconhecem sua voz e a de outras pessoas que “conversavam com a barriga”, acalmando-se ao ouvi-las.
No início, costuma haver uma sintonia tão grande da dupla que as mães conseguem distinguir o significado de cada choro de seu bebê. Inclusive, às vezes, parece que só ela o escuta. É uma comunicação tão refinada, que permite que ela vá de encontro às suas necessidades emocionais. Imagino que ficar atento aos sinais de quando fará xixi ou cocô atrapalharia isso.
Sem contar que a hora da troca da fralda é um momento íntimo e prazeroso com o cuidador, em que brincam e pode ser divertido, indicando que as coisas que saem de dentro do bebê é algo aceitável. Muitas crianças temem seus próprios excrementos, como se fosse algo ruim e venenoso, podendo gerar conflitos emocionais. Certa vez, atendi uma criança que tinha tanta repulsa pelas suas fezes que passava semanas sem colocá-las para fora, chegando a se sentir mal.
O treino que se faz ao banheiro é muito delicado, pode trazer consequências físicas e psíquicas e depende de um amadurecimento do organismo. A possibilidade de usar uma privadinha se dá por volta dos 18 meses. Não para todas as crianças, cada uma tem seu ritmo. Elas próprias começam a se incomodar com as fraldas. Este incômodo funciona como um sinal para iniciar sua retirada. À noite, a fraldinha pode ser deixada de lado quando começa amanhecer seca.
Vi uma foto de uma criança toda molinha, com semanas, sendo suspensa por duas mãos sobre uma privada. Imagino o quão angustiante pode ter sido esta experiência. Depois de tanto tempo num lugar apertadinho, o útero, sentiu-se solta no ar.
A princípio não vejo vantagens na utilização deste método. Pelo contrário. Parece mais um modismo que serve apenas para apressarmos nossas crianças. Não há necessidade. Há tempo para tudo.

Férias é tempo de quebrar a rotina e curtir as crianças



por Ana Cássia Maturano |

Os estudantes estão entrando de férias. Após um semestre de empenho, eles têm a chance de sair da rotina. É disso que precisam. Nada se compara a ter um tempo livre. Mas por um breve período.  A ideia de não ter o que fazer pode ser assustadora. Acordar e não ter o porquê sair da cama é angustiante para muitos.
Provavelmente esta é a razão para algumas pessoas fazerem muitas coisas em suas férias. Acabam agindo do mesmo modo com seus filhos. Assim que acabam as aulas, eles já têm vários compromissos agendados. Dali trinta dias tudo voltará ao que era e o tempo para ficar de papo para o ar se acaba.
E o porquê disto? Será que os tempos mudaram a ponto de todos virarem workaholics? Férias viraram pecado ou coisa parecida? Ou será que a rotina – algo abominado – não é tão ruim assim? Talvez seja este o caso.
A rotina nos dá certos parâmetros para que nos situemos no tempo e no espaço. Inclusive tendo um ritmo, em que há um tempo para as coisas serem feitas. Para tanto, devemos nos mexer. E isso nos motiva.
Não raro, em psicoterapia aparece alguém que está desanimado, meio deprimido, sem estar trabalhando ou estudando. Nem sempre o que o atrapalha é a falta de dinheiro, mas sim a falta do que fazer. O primeiro passo, para uma pessoa nestas condições, é arrumar qualquer atividade em que se comprometa e a coloque numa rotina.
É interessante observar como algumas crianças, próximo ao final das férias, sentem saudade da escola.
Então quer dizer que temos que arrumar milhões de coisas para fazer neste período? Não. Férias é tempo de descanso, necessário para recarregarmos a energia. Mas por um período curto.
Há outro aspecto, porém, que leva as pessoas a não gostarem do tempo livre. Estar sem ter o que fazer propícia olharmos para nós mesmos e, no caso das férias escolares, convivermos mais com nossos filhos. Nem sempre isso é tranquilo. Quantas coisas jogamos para debaixo do tapete nas nossas relações familiares?
Quem sabe, antes de enchermos as agendas dos pequenos com vários afazeres, podemos aproveitar o período para conhecê-los mais convivendo com eles. Muitas descobertas poderão ser feitas e muitos laços ficarão mais apertados.
Boas férias!!!

Como ajudar nossos filhos a entender o que está acontecendo



por Ana Cássia Maturano |

Todos estão surpresos com os acontecimentos em nosso país. De Norte a Sul, o povo está manifestando sua insatisfação com os rumos que ele vem tomando. De tanto dar um jeito aqui e outro ali, sua paciência se esgotou. Este jovem de 500 anos talvez esteja amadurecendo. Como todo adolescente, questionando e reivindicando aquilo que acha ser mais justo.
Existem várias maneiras de mostrarmos nossos dissabores. Uma delas é ir às ruas com cartazes e palavras ditas em coro, como o que se viu. Alguns aproveitaram essas situações para extravasarem todo o seu ódio usando de agressividade. Possivelmente eram apenas baderneiros, cujo único prazer foi destruir. Ou então pessoas que, de tanto guardarem seu descontentamento, não conseguiram que seu inconformismo saísse de outra maneira.
De todo modo, as crianças viram muitas dessas ações. E se assustaram. Não entenderam bem o que se passava. Anunciaram coisas fantasiosas do tipo: “Ninguém virá para a Copa, pois quem vem num país em que acontecem essas coisas?” Referindo-se à depredação da prefeitura e ao incêndio de um carro.
Não necessariamente essa ideia, mas imagino que muitos adultos pensaram em coisas parecidas. Como um golpe de estado ou coisa que o valha. Não estamos acostumados a manifestações assim. O susto não foi só dos pequenos, valeu para os grandes também.
Como ajudar nossos filhos a entender tudo isso, podendo discriminar o que é manifestação de pura destruição, é o que muitos pais estão se perguntando. Afinal, também temos o dever de ajudá-los a se tornarem cidadãos.
Os mais novos nem sempre estão interessados no sentido maior da manifestação, prendem-se às imagens de multidões e depredação. O fogo costuma chamar-lhes a atenção. Uma explicação rápida e pontual sobre suas dúvidas é o suficiente, com o cuidado de se discriminar o que é possível de ser feito – sair às ruas e dizer o que pensa – daquilo que é reprovável – destruir algo ou agredir alguém. Sem grandes explanações ideológicas sobre o assunto. Depois da primeira frase, sua atenção tenderá a se desviar.
Com os adolescentes vale a pena puxar assunto. Uma boa conversa permite conhecer o que o filho pensa, além de orientá-lo quanto a sua participação em eventos como esses. Juntos vão poder construir uma nova maneira de ver as coisas, valorizando-o em seu amadurecimento. Sempre com o cuidado de não confrontá-lo simplesmente para medir forças. A adolescência é o momento de questionar tudo.
Pensando na criação deles ao longo da vida, na importância de se ter ideias, posições e poder lutar por elas, é interessante que a prática da conversa exista dentro dos lares, sempre. Onde as pessoas possam falar, ouvir, refletir e, dentro do possível, promover mudanças.
Foto: Protesto em Maceió (Jonathan Lins/G1)

O Brasil de verdade manifesta sua insatisfação e mostra sua força



por Ana Cássia Maturano |
categoria Educação

Essa manifestação toda que temos visto em nosso país tinha que acontecer. A indignação do povo em relação aos governantes com suas ações populistas e pouco eficazes tem crescido. E o que fazer? Continuar fazendo de conta não dá.
Por muito tempo aprendemos a engolir nosso choro e nossa insatisfação. Proibida de dizer o que pensava, uma geração inteira cresceu com medo e calada.
Em nossa docilidade, aprendemos a ser gratos pelo pouco, ou quase nada, que nos ofereceram, apesar de termos consciência da insignificância daquilo que nos deram. Por exemplo, quem em sã consciência e com um mínimo de condição financeira matricula o filho em uma escola pública?
Fomos tentando encontrar coisas boas. Elas foram se tornando raras. Demos um ou outro jeito para continuarmos em frente. Consolos foram dados à população mais carente: bolsa disto, daquilo e daquele outro. Dignidade e condições de luta, não.
O povo cansou. Cansou das coisas não mudarem e resolveu tomar uma atitude. Porém, não adianta nada esbravejarmos como crianças birrentas e, passada a angústia, deixar tudo como está.
Precisávamos dar este grito. Mas temos que continuar em frente para que as reais mudanças ocorram. Com ações pensadas e coordenadas, que levem a algum lugar. Não à destruição daquilo que é do outro e do que é nosso.
O grande medo agora é que tudo volte como antes. O caminho tem que ser sem volta. Nós, povo brasileiro, merecemos coisa melhor. E descobrimos com muito orgulho a força que temos.

‘Mimos’ dos avós trazem mais benefícios que malefícios



por Ana Cássia Maturano |

Participando de um bate-papo com um grupo de pais sobre a colocação de limites para as crianças, foi levantada a dúvida de como controlar a influência dos avós nesta questão. Uma das participantes relatou que sua filha ganha muitas coisas de seus quatro avós e que percebe uma mudança de comportamento na casa deles. Lá, tem uma liberdade não encontrada em outros lugares. Porém, sabe seguir as regras de onde mora e as da escola, não dando trabalho algum. Com isso, surgiu a desconfiança de que já percebeu como se comportar em vários lugares (como algo ruim).
O problema foi compartilhado por outros pais. Ao mesmo tempo em que lamentaram esta interferência na vida dos pequenos, reconheceram a necessidade deles para quebrar algum galho com os filhos.
Os avós são figuras especiais. Eles têm a importante função de ajudarem, na medida do possível, os filhos criarem os netos. Numa necessidade, são aqueles que estão por perto. Nem todos são assim, é certo.
Para os netos, costumam representar um canto precioso, que garante um alívio quando as coisas não vão muito bem. Algo que nem sempre os pais podem oferecer. Diferente deles, os avós podem fazer isso, sem ter a função de criar o neto para a vida.
Às vezes, agem de maneira contrária a pregada pelos pais. Oferecem comida não saudável, compram o que os netos pedem e não se importam que coloquem o pé no sofá. Muito menos que façam lá as refeições. Ou seja, mostram um mundo permissivo que muitos pais combatem. Além de estarem sempre prontos a oferecerem um colo.
A não ser que os avós tenham um comportamento muito destoante dos valores da família, o que não é o mais comum, essa convivência traz mais benefícios que malefícios. As crianças parecem distinguir muito bem quais as figuras de autoridade mais importantes e que geralmente são os pais. Desde que eles assumam esse papel e não fiquem à sombra dos seus próprios. Por isso, a tendência é seguirem as orientações dos pais.
Até porque, eles são as pessoas mais amadas pelos filhos. Por não terem muita certeza disto, temem essa competição desigual com os avós, visto terem eles que inserir os pequenos na realidade e mostrar seus limites. Ou seja, frustrá-los. Algo que os avós não precisam fazer, mas que fizeram quando exerceram a paternidade. Não há competidores, apenas mudança de papeis.
Por isso que as crianças são diferentes com os avós e com os pais. Como cada um tem um comportamento específico para cada situação da vida. Não somos os mesmos na praia e no trabalho. Com o chefe e com o namorado.
Sorte daqueles que podem ou puderam conviver com essas figuras. Que mostram um mundo que se sabe não ser real, mas que funcionam como um alento para as tristezas da vida. Como um chazinho bem quente em tempos de gripe.

A busca por um projeto de vida e a necessidade de amadurecer



por Ana Cássia Maturano |

Os jovens em ano de vestibular costumam se queixar basicamente de duas coisas. Uma delas é a dificuldade de escolherem uma carreira diante de tantas possibilidades. A outra, que os angustia mais, é sentirem que não vão conseguir passar na prova, ou tão pouco estarem preparados para ela.
Este exame parece o ápice de toda a escolaridade.  Falou-se muito dele durante a vida escolar. No ensino médio, é tingido por cores carregadas e constitui um fim em si mesmo: objetiva-se a aprovação no vestibular como confirmação de sua competência e da instituição que o preparou. Não como acesso para uma nova etapa da vida.
Todo o barulho em torno do vestibular acaba, muitas vezes, encobrindo os verdadeiros temores enfrentados nesta época.
Trabalhando com jovens em orientação profissional, tenho me deparado com questões emocionais cuja resolução precede a própria escolha. Em verdade, eles já vêm quase decididos pela carreira. No entanto, esbarram no medo de não darem conta de enfrentar uma faculdade e tudo aquilo que a envolve. O que, em última instância, é o temor de se tornarem independentes de seus pais e conseguirem se virar sozinhos.
Até então, apesar de demonstrarem certa impaciência com eles e tentarem a todo o momento comandarem suas vidas, receiam serem lançados à própria sorte. Percebem serem imaturos.
Junto disso, também se incomodam com a ideia de estarem deixando para trás os próprios pais que, assim como eles, têm seus temores: de que sofram na vida ou que deixem o lugar de filhos/crianças. Não é fácil crescer e muito menos ver os filhos crescerem.
Assim, muitos estudantes chegam ao cursinho ou terceiro ano do ensino médio, bastante desestimulados para estudar. Às vezes, sempre foram alunos bons e responsáveis, mas passam o estudo para o último plano, como se regredissem. É isso mesmo, parecem voltar para um tempo em que decisões e caminhos desconhecidos não faziam parte do contexto.
Para muitos pais, o jovem se tornou um vagabundo ou irresponsável, um ser alienado, que não quer saber de nada, e por aí vai. O que eles não percebem, tomados pela angústia de prepararem o filho para quando não existirem mais, é o medo que ele está de seguir adiante.
Esta é a vida. Existe um tempo em que temos que seguir adiante. O que não significa que pais e filhos não estarão mais juntos. Se puderem encarar essas questões e conversarem sobre elas, quem sabe poderão enfrentar de modo mais tranquilo esta nova etapa.

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