domingo, 13 de janeiro de 2013


África pré-colonial: África Austral
Posted: 12 Jan 2013 01:59 PM PST



Os países que fazem parte da África Austral são: Angola, Zâmbia, Moçambique, Namíbia, Botsuana, Zimbábue, Suazilândia, Lesoto, África do Sul, Madagascar e as Ilhas Comores e Maurício
O Grande Zimbábue e o Reino do Monomotapa Atualmente os países pertencentes à África Austral, numa perspectiva geográfica, são: Angola, Zâmbia,  Moçambique, Zimbábue, Namíbia, Botsuana, Suazilândia, Lesoto, África do Sul, Madagascar, contando ainda com as diversas ilhas que pontuam a área de encontro dos Oceano Atlântico e Índico.

Por volta da metade do primeiro milênio, os povos bantos, provenientes da fusão entre a vaga oriental e a dispersão secundária a partir da África central, assentaram-se na região dos rios Zambeze e Limpopo. Eram povos oriundos da região do lago Tanganica, que haviam chegado à região por volta do ano de 850, descobrindo ouro, cobre, ferro e outros metais. Ao chegarem à região, a classe dominante erguera um santuário e outras edificações às quais deram o nome de Dzimbáhué. Traziam consigo a prática da agricultura, além de gado (búfalos, caprinos, zebras) e do conhecimento da metalurgia. Estas sociedades viveram em economias de subsistência assim mesmo devendo praticar um comércio local, sendo que este é atestado pela cerâmica refinada, testemunha de uma especialização do trabalho.
Segundo M'Bokolo,
Por volta do ano 1000, registrou-se uma renovação importante, identificada por uns com a
chegada de um grupo novo da população, os Leopard's Kopje(...), por outros a  uma
aceleração do modo de mudança nas sociedades locais. (...) Numa segunda fase, datada dos
séculos XIII XIV, a cultura material dos Leopard's Kopje voltou a enriquecer-se com o
trabalho do algodão, o tratamento do ouro e do marfim, e as primeiras construções de
paredes de pedra.(M'Bokolo, 2003)

No que concerne à “origem” do reino, os estudiosos não estão em consenso. Alguns atribuem um valor capital ao poder de agregação inerente à adoração de Muári, outros consideram que novos valores políticos foram acrescidos com a chegada de contingentes étnicos que não xonas. Alguns, ao contrário, creem que dinâmicas próprias, locais, tiveram como resultado a criação de sistemas políticos inéditos. Existem também aqueles que, ainda de acordo com M'Bokolo,
Poem em evidência o papel decisivo, aqui como em outras partes da África, do “comércio a longa distância” com parceiros estrangeiros. É certo que o comércio entre os árabes estabelecidos na costa do oceano Índico, em particular em Quíloa (Kilwa) e em menor volume, em Sofala, e as populações Xonas tinham alcançado um notável nível de desenvolvimento de que as fontes portuguesas nos finais do século XV e começos do século XVI dão bem conta.(M'Bokolo, 2003)
Assim, em meados do século XIV, o Grande Zimbábue devia ter uma população acima dos 10.000 habitantes. A sociedade devia, a partir de hipóteses sustentadas pelo material arqueológico, ser extremamente hierarquizada: acima de todos, o rei e sua parentela; logo abaixo os dignitários e os oficiais do Estado, seguidos pelos numerosos artesãos ferreiros, trabalhadores do artesanato têxtil, pedreiros, oleiros . Testemunho deste poder nas mãos do rei são as enormes construções de pedra que deram espaço para o desenvolvimento de diversas lendas acerca da população do Grande Zimbábue. 
Apesar de toda a hierarquia, e dividindo a atenção com o poderio real, uma instituição específica era considerada como primordial: a família. É o que atestam os achados materiais que indicam uma forte centralidade da atenção cotidiana para o meio familiar em detrimento ao espaço coletivo. Como deste modo os indivíduos tinham sua atenção voltada para a subsistência de sua família, ao que tudo indica o rei acabava por ser o único que poderia lucrar com o comércio em larga escala, pois só ele possuía os meios para mobilizá-lo. 
O território possuía jazidas de ouro, o que atraiu a atenção de comerciantes estrangeiros, os quais o trocavam por pérolas, tecidos, cerâmicas e miçangas. Como foi discutido acima, não se está em consenso sobre qual foi 
o papel que estes estrangeiros representaram na emergência do Estado. Todavia, seja marginal ou essencial, estes sem dúvida participaram efetivamente na sua constituição.
Monomotapa (que significa “senhor de tudo” ou “senhor dos vassalos submetidos pela guerra”) era o nome que recebia o rei dos povos Xonas (tronco banto), que habitavam na região entre os atuais Zimbábue e Moçambique.
M'Bokolo chama a atenção para alguns aspectos surpreendentes deste reino africano:
O rei, liberto das contrições da humanidade pelas suas próprias funções e por  atos desumanos acompanhando a sua entronização, era encarado como representante até na sua virilidade e na sua constituição física da prosperidade do reino e do bem estar da sociedade no seu todo. Alguns chefes deviam até ter relações sexuais com um crocodilo vivo ou uma serpente. “Antigamente, costumavam os reis desta terra beber peçonha, com que se matavam, quando lhes sucedia algum desastre ou defeito natural em sua pessoa, como era serem impotentes ou doentes de alguma enfermidade contagiosa, ou quando lhes caíam os dentes dianteiros, com que ficassem feios, ou qualquer outra enfermidade ou aleijão. E para não terem estas faltas se matavam, dizendo que o rei não havia de ter defeito algum e, quando o tivesse, era mais honra sua que morresse logo e fosse à outra vida melhorar-se do que lhe faltava, pois lá tudo era perfeito”.(M'Bokolo, 2003)
Os Xonas eram guerreiros belicosos e grandes comerciantes. Seus chefes usavam capas de peles de animais selvagens, cujas caudas arrastavam pelo chão, como sinal de dignidade e autoridade. Suas espadas, levadas do lado esquerdo da cintura, eram ornamentadas com muito ouro. Armavam-se também de flechas e lanças pontiagudas.
Tradições Religiosas

Para os Xonas, o mundo e todas as coisas são criações de um Ente Supremo, chamado Muári, também chamado de Mulungu, Ruwa ou Unkulunkulu. Ele personifica as forças da natureza e da sociedade. O Monomotapa governava em nome de Muári, acumulando poderes políticos e religiosos. Mas os grandes depositários e conhecedores das coisas que dizem respeito ao cotidiano da vida e à natureza são os Nganga. Eles devem ser consultados nas doenças e estados anormais, e utilizam dos muxongas (medicamentos e ervas), para determinar a causa do malefício e assim obter a cura.Os Mizimus, espíritos dos ancestrais, também desempenham um papel fundamental na religiosidade destes povos. Eles são espíritos familiares, aos quais devem ser feitas oferendas periódicas de pombe (cerveja), tabaco, mingau etc. Um Mizimu insatisfeito ou esquecido pode causar doenças e outros distúrbios em seus descendentes.

Fonte: Projeto Abá - Estudos Africanos e Afro-Americanos - Para estudar a História da África - Universidade Estadual de Goiás
África pré-colonial: África Central
Posted: 12 Jan 2013 11:24 AM PST
Nesta subdivisão do continente encontramos os seguintes países: Chade, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Congo. Dentre os vários povos que habitaram esta região, destacaremos os povos de língua banto por se tratar de dois terços da população atual, e por sua relação com o Brasil na diáspora África-América.

Os Povos Bantos
O termo Banto se refere a um tronco linguístico no qual se encaixam entre 300 e 600 (LOPES, 1997, p. 269-77 apud MOREIRA, 2006, p. 40) línguas e povos diferentes, que ocupam uma superfície de aproximadamente nove milhões de quilômetros quadrados, que vai desde uma linha imaginária que divide o continente africano  ao meio, da República dos Camarões, no Atlântico, à Tanzânia, no oceano Índico (LOPES, 1997, p. 269-77 apud MOREIRA, 2006, p. 40). É comum utilizar-se o termo banto hoje também para designar os povos que utilizam as línguas pertencentes ao tronco banto, que somam mais de 200 milhões de pessoas. 

Segundo a tese de alguns linguistas, as línguas bantas seriam derivadas de uma única língua comum, denominada por eles de protobanto. De acordo com os estudos destes linguistas  é possível reconstruir um pouco do modo de vida dos primeiros povos bantos através do estudo de sua língua. Sabemos, por exemplo, que eram produtores de alimentos, pois possuíam palavras para designar o dendezeiro, legume, figueira, azeite, cogumelo, bode, cachorro, e até boi. O vocabulário de caça era pouco, e predominavam as palavras referentes a pesca, como anzol, canoa, remo. Tudo isto nos faz crer que tivessem um habitat que transitasse entre a savana, o cerrado e a floresta. 

Este tipo de território pode ser encontrado ao norte e ao sul da grande selva do Zaire. Pelos estudos linguísticos e arqueológicos, estamos diante, portanto, de pescadores, que praticavam a agricultura nas bordas da mata, coziam a cerâmica, teciam panos de ráfia e outras fibras vegetais, faziam cestos, estavam organizados em extensas famílias e conheciam certas formas de controle social difusas, baseadas no prestigio dos mais velhos. Suas crenças religiosas não apresentavam grande distância das que ainda hoje professam muitos de seus descendentes: acreditavam que tudo participa da harmonia cósmica, que cada coisa possui força espiritual e que há permanente troca de poder e apoio entre os vivos e os mortos da mesma linha de sangue.

À medida que aumentava o número populacional, os protobantos foram avançando para o leste e para o oeste, sempre seguindo os principais leitos de rios da região, como o Sanga e o Ubanqui até o leito do rio Zaire, e então subindo por seus afluentes: o Cuango, o Quilu, o Cassai e o Lulua. Conforme iam migrando, a língua ia se segmentando. Os grupos que se expandiram para o leste deram origem às línguas bantas orientais, e os que se deslocaram para o sul, ao ramo ocidental do banto. 

Por volta do século II, os bantos atingiram as regiões das serranias e montanhas do Quênia e do Rift Valley, como demonstram os exemplares das cerâmicas ali descobertas. Nos séculos III e IV, eles expandiram-se até o norte da África do Sul, descendo à costa de Moçambique, onde tiveram contato com a bananeira, o coqueiro e várias espécies de inhames de origem sul-asiática, trazidas à região de Madagascar pelos primeiros indonésios que ali chegaram através do Índico.

Mais tarde eles levariam estes produtos até o interior da África, do Zambeze até Senegal, fazendo com que a banana e o coqueiro passassem a fazer parte da paisagem africana, especialmente nos litorais atlântico e índico. Em algum momento de sua história, os bantos que viviam nas florestas do Zaire teriam conhecido o ferro. Segundo a arqueologia, foram encontrados vestígios do uso desta tecnologia em diferentes datas entre os vários povos bantos habitantes da África central, como por exemplo o século IV a.C. nos Camarões, Congo, Chaba e no centro da Zâmbia, entre VII e I a.C. no Gabão, e no século III a.C. na região de Kinshasa.

Após dominarem outras técnicas de obtenção de alimento, como o cultivo do sorgo e do milhete, e a criação das cabras, carneiros e bois, os bantos puderam então se afastar da vida próxima aos rios, córregos e lagos, e ocuparam as savanas e os planaltos da Zâmbia, do Zimbábue, Maláui, Zaire, Moçambique, Angola e leste da África do Sul. A maioria passou então a depender mais da caça e do gado do que da pesca, além da semeadura. 

Os grupos bantos se espalharam muito rapidamente pela África. Mas esta expansão não se dava através de exércitos, embora tivessem que se valer da força em alguns casos; mas em sua maioria eram colonos que se ocupavam territórios que lhes pareciam vazios, às vezes entrando em contato e até mesmo em conflito com pequenos grupos de caçadores e coletores errantes, como os coissãs e pigmeus. 

Como mostra o relato de Alberto da Costa e Silva, assim se dava a chegada de um grupo banto a uma nova região:
Eis que chega um grupo banto. Algumas famílias. Ou toda uma linhagem. Limpa o terreno. Corta árvores para fazer as casas. Arma-lhes as paredes como uma gaiola de varas e preenche os vazios com barro socado. Compõem-lhes o teto de sapé. E nessa nova aldeota, instalam-se. Abre, ali perto, por derruba e queimada, as suas roças. Faz os cercados para os animais domésticos: ovelhas, cabras, algumas vezes a vaca. Vai pescar no  rio, no riacho, no lago, na lagoa. Com anzóis e arpões de ferro. Com armadilhas, redes e puçás. Volta muitas vezes da caça com grandes animais antílopes, búfalos, porcos selvagens que matam, graças à lança e à flecha de ponta de ferro, com menor dificuldade do que os vizinhos nômades, que mal pressentem. 

(...)Quando o solo começa a mostrar-se menos fértil ou a caça se torna mais difícil nas redondezas, o grupo segue adiante. E, quando o número dos que formam aumenta demasiadamente ou dentro dele surge a cizânia, seguem adiante, divididos. Ao mudar de paisagem e ao entrar em contato com culturas diferentes (...), alteram a alimentação, modificam hábitos, enriquecem o vocabulário e a sintaxe, trocam a forma de alguns de seus objetos e assimilam novos símbolos de fé e poder. (SILVA, 1996, p. 210-211).
Englobando uma infinidade de comunidades e povos de pouca ou nenhuma semelhança física, os bantos, uma classificação mais linguística do que étnica, ocupam atualmente cerca de dois terços do território africano. Estes grupos podem ser classificados de acordo com as influências que sofrem a partir do contato com outros povos, com os quais, durante sua expansão, dividem territórios, mestiçando-se ou repelindo-se. Algumas características se mantêm constantes, como a divisão sexual do trabalho, cabendo ás mulheres a agricultura e aos homens o pastoreio, e a organização familiar matrilinear, nos quais a mãe e irmãs do governante, chefe eletivo ou rei divinizado, exercem importante papel político. 

Hoje podemos dividir os grupos bantos em cinco grandes grupos, de acordo com suas características culturais e região geográfica. São eles: 
  • Os bantos da floresta tropical, como os mpongué e os bakotá (no Gabão), os kuelé, os birá e os bateké (no Congo), que vivem em tribos de reduzidas dimensões;
  • Os bantos da savana atlântica, com destaque para os bacongos, do reino Manicongo (séc. XIII), os bavili, os umbundo, ovibundos e os hereros; 
  • Os bantos do planalto central, com destaque para os shona, povo pertencente ao grande reino do Monomotapa; 
  • Os bantos meridionais, com pastores organizados em aldeias dispostas em torno de um curral comunitário, com destaque para os nguni e os sotho, que habitam regiões próximas a atual África do Sul; 
  • E os bantos orientais, incluindo os povos da federação Malawi, do atual Quênia e na região dos Grandes Lagos (Burundi e Ruanda) (MOREIRA, 2006, p. 42-43).
Muito ainda deve ser descoberto em relação ao modo de vida dos primeiros povos bantos. Mas o que sabemos é que graças à sua expansão pelo território africano, conhecimentos, objetos e técnicas puderam ser levados a vários povos diferentes do continente, como o uso do ferro, e técnicas de cultivo. Assim, expandindo-se, misturando-se, podem ampliar os seus conhecimentos nos contatos com outros povos, demonstrando como a cultura africana é rica e diversificada, mas sempre aberta ao contato com outros povos. 
Fonte: Projeto Abá - Estudos Africanos e Afro-Americanos - Para estudar a História da África - Universidade Estadual de Goiás
África pré-colonial: África Setentrional e Oriental
Posted: 12 Jan 2013 09:39 AM PST

A África setentrional, também conhecida por Norte da África, localiza-se ao norte do deserto do Saara. Compõem a África setentrional os países de uma região cultural conhecida por Magreb, além do Egito e Sudão. O Magreb conglomera seis países: Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Mauritânia e Saara Ocidental. Esse último é, até o presente momento, um país de jure. Isso significa dizer que ainda não é um país de facto posto que reclama o reconhecimento de sua legitimidade (como país independente do Marrocos) junto à organismos internacionais. Atualmente, o Saara Ocidental encontra-se sob protetorado da ONU. Conforme pode ser observado no mapa ao lado, acrescentou-se com menor destaque à região da África setentrional os atuais países Eritréia e Etiópia. Essa referência está justificada não pela posição geográfica que ocupa esse dois países em relação à região setentrional da África (no recorte geográfico, tanto a Eritréia quanto a Etiópia fazem parte da África oriental) e sim por englobar um área cultural, linguística e histórica que os aproxima de muitos povos da região setentrional da África. Quanto ao território da África Oriental, em termos da divisão geográfica atual, encontramos os seguintes países: Egito, Sudão, Eritréia, Djibuti, Etiópia, Somália, Uganda, Quênia, Ruanda, Burundi e Tanzânia.

Na África Setentrional convergem várias organizações políticas e sociais, dentre as quais a egípcia mais conhecida e estudada é sempre considerada como componente de grandes civilizações da antiguidade ocidental, com pouca ou nenhuma relação com o continente africano. Por essa razão, propõe-se considerar o Egito em sua relação com outras organizações políticas-culturais das regiões setentrional, oriental e ocidental do continente  africano, centrando o foco nas relações que mantinham com antigos reinos que se localizavam nas atuais Etiópia e Eritréia. Em termos políticos atuais, a Etiópia e Eritréia não constituem parte do Norte da África, mas em termos históricos fazem parte de uma mesma configuração econômica, cultural e política. Daí o destaque nas representações cartográficas que acompanham esse tópico. 

Esse recorte é absolutamente necessário quando se busca descentrar o olhar homogêneo e  racialista que vigorou nos compêndios sobre história da África desde a antiguidade. Esse olhar homogeneizador foi responsável pela produção de uma série de topônimos (nome próprios de lugares) e de etnônimos (nomes de povos, comunidades políticas, etnias, etc...) que variaram conforme interesses geopolíticos, mas mantinham a mesma intencionalidade: nomear e definir para submeter. Ademais, conhecer tais topônimos e etnônimos torna-se importante para situar o aluno espacial e temporalmente no estudo da África. Portanto, deve-se lembrar que os primeiros relatos escritos sobre a África foram feitos por viajantes, Gregos e Árabes, sobretudo. 

Aliás, enquanto, na África, os árabes foram grandes historiadores, os gregos foram grandes  toponomistas (aqueles que deixaram registrados os nomes de lugares). Por isso, é comum grandes confusões entre povos, localizações e temporalidades.

Por exemplo, a denominação ethiop foi dada pelos gregos aos núbios e ashunitas. O termo referia-se aos 'homens de cara queimada' e não aos etíopes, da atual Etiópia. A atual Etiópia da antiguidade e até fins do século XIX foi conhecida pelo nome de Abissínia. A Núbia, por sua vez, era uma região do atual Sudão, o qual atualmente se localiza na parte nordeste da África e guarda pouca relação com o Antigo Sudão Central (outrora denominado de Nigrícia por colonizadores europeus) - (ver mapa topônimos). A região da Núbia dividia-se em Núbia inferior e Superior e abrigou importantes reinos e cidades como Cush, Meróe e Napata. Os exemplos poderiam seguir indefinidamente.

O importante é que possamos, pelos menos, iniciar o desvelamento dessas inumeráveis denominações, além de nos localizarmos espacial e temporalmente nas Áfricas de todos os  tempos.

1.1. Egito, Núbia (Kush, Méroe, Napata) e Abissínia (Ashum)
A formação populacional do Egito, da Núbia  e Abissínia são tributárias de longos processos migratórios de povos agricultores que, no IV milênio a.C., os quais viviam na região do Saara. Nesse período, comumente conhecido por antiguidade ( 4.000 a.C a 3.500 a.C) o Saara não era um deserto e sim  uma região propícia à agricultura, com rios  pouco caudalosos e uma vegetação pouco exuberante, o que possibilitava pouco gasto de energia no trabalho, na busca de pastagem para animais domesticados e no de cultivo de vegetais. 

O mesmo não ocorria com a região nilótica. Nesse mesmo período, essa região ainda não era atrativa para aquelas populações que até então habitavam o Saara, posto que o leito do rio Nilo transbordava em altos índices. Ademais, o rio Nilo estava cercado por uma vegetação ciliar assaz exuberante. 

Por volta no ano 3.500 a.C, segundo argumenta Ki-Zerbo (1972, p 79-80), essas populações   diante das bruscas mudanças climáticas e geológicas que se processavam na região do Saara passaram a buscar lugares com abundância de água e vales férteis, fugindo do processo de desertificação que ocorria na região. Por conseguinte, com parte do processo de desertificação que alcançava também o Nilo, houve um aumento da aridez do solo e desgaste natural da abundante vegetação, o que permitiu a formação de aluviões extremamente férteis. 

Passados alguns séculos de sucessivas migrações do Saara rumo à região nilótica, um grande contingente populacional estabeleceu-se ao longo das margens do Nilo, do Delta à sexta catarata. A população que se tornaria posteriormente Egito estabeleceu-se do Delta à 1ª catarata do Rio Nilo (norte) e da Núbia da 2ª à 6ª catarata (sul). Essas populações, agrupadas em dois pólos (Norte e Sul do Nilo) passaram a ponderar sobre formas organizacionais que melhor aprovasse e aproveitasse o excedente material produzido pela densa sociedade nascente. 

Das formas organizacionais, no aspecto sócio-político, o Egito escolheu se organizar em um modelo hierarquizado e teocrático (Faráo) com um corpo de apoio sacerdotal, assegurado por exércitos militares, escribas para ordenar e administrar os excedentes materiais, além de lavradores, literatos, construtores, arquitetos, médicos dentre outras tantas atividades que, com diferenças na forma, eram também desenvolvidas por tantas outras sociedades africanas à mesma época. 

A população Núbia por sua vez, escolheu organizar-se em sociedades autocráticas, independentes e dinâmicas o que propiciou manter um alto grau de negociação e autonomia política, comercial e administrativa em relação à outros povos, inclusive com assírios e romanos. 

Ki-Zerbo, em História da África Negra, comenta que perguntas simples têm o terrível efeito de desarmarem especialistas. E é o que ocorre quanto se busca retomar tanto as relações entre os egípcios e outros povos no contexto africano, quanto no contexto asiático e europeu. A simples pergunta “eram os egípcios negros?” gerou além de muitos estudos em várias áreas do conhecimento humano muitas contendas. Por isso é importante ter em conta que vários dos estudiosos que tentaram retomar a cultura egípcia no contexto africano foram “acusados” de afro-cêntrismo. O caso mais conhecido é o do antropólogo, físico e egiptólogo senegalês Cheik Anta Diop. 

Por outro lado, conforme reconhece o historiador Elikia M´Bokolo, “a questão das relações entre o Egito faraônico e a 'África Negra' é muito mais complicada do que pode parecer a princípio ” (2003, p. 53). O autor afirma que tal questão perdura por duzentos anos e se tornou um dos problemas mais tratados na historiografia africana, com contínuas polêmicas. Com certeza, tais desacordos são oriundos da histórica ilação entre raça, civilização e desenvolvimento. 

Quanto à pergunta “eram os egípcios negros?” importa mais refletir sobre a mesma que respondê-la diretamente. Assim, podemos iniciar pelo tempo verbal. “'Eram' ou 'são' negros, os egípcios?”. De quais egípcios estamos tratando? Em quais épocas? Essas proposições trazem para a arena de discussão a dinamicidade histórica e social próprias dos seres humanos que, além de abrir possibilidades para a discussão identitária das relações étnico-raciais, permitem desconstruir a postura eurocêntrica que vigora nos manuais didáticos. Ademais, conforme anteriormente discutido, o conceito de ser negro deve ser contextualizado no âmbito das relações históricas e identitárias de um povo, e não apenas no viés biologicista ou racialista que engloba o termo. 

Entretanto, para se retomar a história do Egito nesse viés, faz-se importante, primeiramente, situá-lo em alguns marcos históricos, como por exemplo, retomar as dinastias por quais passou, além da forma comumente utilizada pelos historiadores para defini-lo tanto temporal quanto espacialmente. Assim sendo, o conteúdo que se segue tem o objetivo simples de rememorar esses marcos, posto se acreditar que tal propósito facilitará a compreensão do aluno sobre de quais egípcios estamos nos referindo. 

1.2. Egito tempo e espaço
Conhecemos que a história Egípcia remonta à antiguidade, ou seja, no período de anos entre 4.000 a.C. a 3.500 a.C. Continuando nessa temporalidade, quatrocentos anos mais tarde, por volta do ano 3.100 a.C se inicia uma nova datação histórica do Egito Antigo, comumente dividida em três grandes periodizações. 
  • Antigo Império = da 1ª dinastia a 12ª dinastia (3.100 a.C. a 2.000 a.C)
  • Médio Império = da 12ª dinastia à 18ª dinastia (2.000 a.C. a 1.580 a.C)
  • Novo Império = da 19ª dinastia a 30ª dinastia (1.580 a.C a 1.100 a.C)
É importante reconhecer a não-fixidez dessas datas. Alguns egiptólogos divergem quanto à simplificação dessa periodização, acrescentando o período pré-dinástico (no qual estariam as duas primeiras dinastias, denominadas Tinitas), dois períodos intermediários, antes e depois do Médio Império, além de uma Época Baixa e vários períodos, dentre eles o ptolomaico e o romano. 

Entretanto, como não é objetivo entrar nessa querela, manteremos nosso propósito inicial: conhecer a sociedade egípcia em relação aos demais povos africanos, asiáticos e europeus. Dessa forma, optamos por reportar aqui, com alguns acréscimos, a referência temporal de Ki-zerbo na qual, em que pese a simplicidade, não exclui a eficácia para um simples estudo cartográfico e histórico do Egito Antigo.

Segundo Elikia M´Bokolo, as atuais informações que se dispõe sobre a Núbia são suficientes para fugir da querela que envolve o Egito. Conforme pôde-se conferir nos quadros anteriores, a Núbia encontrava-se localizada nos territórios ao sul do Egito os quais eram irrigados pelo Nilo. A região de Kush corresponde, grosso modo, ao vale médio do Nilo. Dessa forma, deve-se evitar as informações historiográficas que tem por ponto comum considerar a Núbia como um desdobramento do Egito. 

Informações arqueológicas demonstram que o estado kushítco (IV milênio a.C) era contemporâneo dos faraonatos pré-dinástico. Objetos de cerâmica, marfim, peles, e cobre revelam, além de uma aproximação entre kushitas e egípcios, uma intensa rota comercial entre os dois estados. O registro sobre o reino (e o nome) de Kush datam dos princípios do II milênio e são encontrados em textos egípcios. Nesses textos são recorrentes as anotações de temor que os egípcios tinham dos kushitas. Esse temor que os egípcios nutriam pelos núbios kushitas não era de todo sem precedentes, posto que, além de várias tentativas os núbios conseguiram, posteriormente, efetivar uma dinastia núbia no Egito. Essa ficou conhecida como a XXV dinastia Etíope no Egito. Entretanto, é necessário   ressaltar que os núbios (kushitas, meroítas, etc) foram denominados, por historiadores gregos, de etíopes. Logo, não pode e não deve ser confundido o antigo etnônimo “etíope” com os atuais etíopes (da atual Etíope) posto que os gregos referiam-se aos “núbios” do período antigo. 

A partir da invasão e ocupação do Egito pelos hicsos, vindos da Ásia, foi possível obter informações mais precisas sobre o reino de Kush, da qual Elefantina marcava sua fronteira ao norte. 

Fonte: Projeto Abá - Estudos Africanos e Afro-Americanos - Para estudar a História da África - Universidade Estadual de Goiás
África pré-colonial: África Ocidental
Posted: 12 Jan 2013 09:38 AM PST

Os países que compõem a subdivisão da África Ocidental, atualmente: Mauritânia, Mali, Níger, Nigéria, Burkina Fasso, Senegal, Gâmbia, Guiné, Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Gana, Togo, Benin, Camarões, Guiné Equatorial, São Tomé e Príncipe, Gabão. Ao longo da história, diversos povos viveram nesta região, dentre eles os Haussás, Tapas, Ibos, Ijexás, etc. 

Iniciaremos agora o estudo de vários povos que habitaram a Ocidental conhecida como Iorubalândia. A escolha pelo estudo destes povos se deve à sua significativa presença na diáspora africana para as Américas, e por sua  influência na  formação das  religiões de matriz africana e afro-brasileiras



2.1. Populações do Delta do Níger (Os Yorubás)
  • Golfo da Guiné (Costa da Mina): nome que designava à época da escravidão, a região litorânea que se estende da Libéria, passando pela Costa do Marfim até o Gabão.
  • O topônimo Costa da Mina se deveu ao Castelo de El Mina, localizado no atual território de Gana. 
  • Os Yorubás estão localizados na porção noroeste do continente africano abaixo do Saara ao sul; a sudoeste e sudeste da confluência do Rio Níger com o Benue.
  • Os povos yorubanos eram essencialmente agricultores. 
  • Suas instituições familiares baseavam-se em laços e tradições familiares. 
  • Suas aldeias, habitadas por várias linhagens, tinham governantes escolhidos pela idade ou pela proximidade de parentesco com o grande ancestral comum. 
  • Um grupo pequeno dessas aldeias formava uma cidade-estado que era chefiada por um líder.
  • Esse líder poderia receber títulos de diferentes nomenclaturas, conforme sua atribuição/função na sociedade, ou ainda conforme a cidade-estado a que estava ligado. 
  • Obá, Olu ou Alojá eram os títulos desses governantes. 
  • Cada governante era, em geral, o homem mais rico de sua comunidade. Controlava grande parte das instituições e, sobretudo regulava o mercado, o qual ficava em frente à sua casa, no centro da Aldeia principal. 
2.2. Origens dos Yorubás
Segundo as narrativas orais e historiográficas, a primeira cidade-estado yorubana fora Ifé (ou Ilê-Ifé). À Ifé se seguiram outras grandes cidades-estado como Oyó, Equiti, Ijexá, Ijebu, Savê (Sabê) e Ouidhá (Idah) Egbá e Ondô.

Os povos Haussás, costumam dizer que o povo de Ifé se originou de alguns descendentes de Canaã, da tribo de Nimrod, que teriam sido retirados da Arábia por um príncipe de nome Ya-ruba, o qual teria migrado para a África ocidental, deixando para trás seu povo. 

Outros povos dizem que Odudua, o pai de todos aqueles que depois se chamaram iorubás, era filho de um rei árabe, e que, por resistir ao islã, teria sido expulso pelos fiéis muçulmanos. Segundo essa última narrativa, Odudua, atravessou o Saara, perseguido pelos inimigos, chegou ao Níger, com suas divindades e sua gente; e nas florestas da futura terra dos yorubás, fundara Ilé-Ifê. Contudo, essa genealogia parece ter nascido da confusão do nome Meca, a cidade santa dos muçulmanos, como o de Meko, uma cidade iorubana. 

Outra narrativa, afirma que os primeiros habitantes de Ilê-Ifê vieram das terras dos Nupes ou das terras dos Haussás. A tradição yorubana (inclusive na diáspora americana) afirma que os yorubanos nasceram em Ifé. E nãosó eles, mas também a Terra e os primeiros seres humanos foram criados em Ifé o Umbigo do Mundo.

2.3. A criação do Mundo Mito Fundador de Ilê-Ifé
No início dos tempos, as divindades viviam no Orum (Céu), abaixo do qual havia apenas a imensidão das águas. Olorum, o Deus Supremo, senhor do Orum deu a Oxalá, o senhor das vestes brancas, uma sacola contendo uma porção de terra numa casca de caracol (igbi) e uma espécie de galinha de cinco dedos e ordenou que descesse e criasse a terra... 

Uma das regras importantes era que todo o Orixá que se pusesse atravessar o portal do Orum deveria fazer uma oferenda a Exu, o guardião das cancelas e caminhos. Entretanto, como Oxalá estava preocupado em realizar urgentemente sua tarefa, não se preocupou em cumprir a regra e Exu, mesmo tendo percebido que Oxalá havia esquecido sua sacola com água, não o avisou. No caminho, Oxalá sentiu muita sede, mas não se deteve para tomar água nos riachos e lagos próximos ao Orum. Com a distância, essas fontes ficavam cada vez mais escassas e Oxalá aumentava sua sede, até um momento que não pôde mais resistir e enfiou seu cajado (opaxorô) em uma palmeira, da qual saiu vinho de palma. Oxalá bebeu o vinho de palma abundantemente, ficou embriagado e adormeceu. 

Então, sua rival Oduá (outras versões falam em Odudua irmão e rival de Oxalá) roubou a sacola e usou o pó para criar o mundo antes de Oxalá acordar. Oxalá foi castigado com a proibição de usar produtos do dendezeiro e bebidas alcoólicas; mas, como consolação, recebeu uma argila para modelar os humanos. Mas, como não levou a sério a proibição, continuou bebendo e, nos dias em que se excedia, fazia as pessoas tortas ou mal cozidas. É por isso que os deformados e os albinos são filhos de Oxalá.

Oduá, após pegar a sacola de Oxalá tomou da porção de terra que estava em seu interior e lançou sobre a água. Depois colocou a galinha de cinco dedos em cima da terra. A galinha começou a ciscar a terra, espalhando-a em todas as direções, para muito longe, até o fim do mundo. 

Depois, Oduá mandou o camaleão verificar se o solo era firme. Então, Oduá pisou no chão de Idio, local onde fez sua morada e onde hoje se localiza, em Ifé, seu bosque sagrado. Quando Oxalá despertou da embriaguez e descobriu que o trabalho já havia sido concluído, percebeu o quanto o vinho de palmeira era perigoso. Assim proibiu seus filhos que o bebessem para todo o sempre.

2.4. As fontes e o tráfico
Ao longo do golfo da Guiné, do Gâmbia à atual República dos Camarões, se estende uma região úmida, coberta de florestas sobre a zona costeira do Oceano Atlântico cuja história antiga pela ausência de documentos continua bastante desconhecida. (ver mapa Populações do Delta do Níger)

Os recursos naturais da região antes do ano de 1.500 eram os óleos de palma (Azeite de Dendê), o vinho da palma, o sal, a madeira da qual se retirava o material das casas e cortiças. A agricultura estava voltada para a produção de inhame, banana, arroz: após o século XV, com a chegada de portugueses, passou-se a produzir a mandioca e o milho. A mosca tse-tsé não permitia a criação de cabrito e carneiros para a produção de lã ou qualquer bovino de pequeno porte. O ferro era conhecido de longa data. 

Os habitantes da região do atual Benin eram formados por uma população eminentemente negra. A paisagem dessa região era formada por imensas regiões desertas em certas partes da floresta e era frequentada por mercadores sudaneses que comercializavam a noz de cola e o ouro. Esse metal era encontrado em abundância na região limítrofe da Costa do Ouro e na Cosa do Marfim. 

Esses topônimos foram dados pelos portugueses que batizaram a região também de “Costa  da Malagueta” uma micro-região da atual Libéria; “Costa dos Escravos” a Região do Dahomey (atual Benin) e “Rio dos óleos” a região da embocadura do Rio Niger; essa nomenclatura referia-se aos principais produtos de exportação e câmbio com europeus, tais como fuzis, barris de pólvora, barras de ferro e de cobre, tecidos e miçangas de vidro. 

O ouro foi o primeiro atrativos para os europeus. Os portugueses instituíram na Costa do Ouro, o forte de El Mina e exportaram mais de uma tonelada do produto por ano. Assim, a Costa do Ouro (ou Costa dos Escravos) e a “Rota dos Óleos” eram as principais vias de trânsito desses tráficos. 

Cerca de 50.000 mil escravos dessa região foram transpostos para as Américas no Século XVIII, período do auge do tráfico de escravos. No ano de 1815 o tráfico fora oficialmente abolido. Entretanto, a caça aos habitantes da região não pôs fim definitivo ao tráfico. Os ingleses, que tinham aprisionado a maior parte desses habitantes, foram os mais enérgicos na repressão ao tráfico. O sucesso dessa repressão deveu-se, muito, à fortaleza de sua marinha. 
2.5. Confederação yorubana
  • Localização (atual): Sudoeste da Nigéria e certas regiões do Togo, Gana e do Benin à sudoeste da confluência dos rios Níger e Benué. 
  • Localização (histórica): vizinhos dos povos Hauçás (nordeste) Baribas [Borgu] (noroeste) dos Ibós (sudeste) e Edos-[Benin] (sudoeste).
  • Principais cidades yorubanas: Abeokuta, Ado-Ekiti, Akure, Egbá, Egbado, Ibadam, Ife, Ilexá (Ilesa ou Ijexá) Ijebu-Odé, Ijebu-Igbó, Ilorin, Lagos (atual), Ode itsekim, Ogbomoso, Ondo, Ota, Osogbo, Owo e Oyó. 
  • População: 40 milhões de pessoas (com aproximadamente 250 grupos étnicos, sendo 180 apenas na Nigéria)
  • Quadro religioso (atual): Cristianismo (45%), Islamismo (44%) e religiões tradicionais (Culto aos Orixás) e outros (1%).
Os Yorubás foram caracterizados (antropologicamente) pela unidade linguística em torno do ramo kwa do grupo nígero-congolês. O etnônimo Ioruba originalmente designava apenas o povo de Oió (Oyó), entretanto, hoje ele nomeia vários subgrupos populacionais (acima citado).Assim, na classificação etno-linguística, os Yorubás formam um grupo linguístico que constituem aproximadamente 30% da população total da Nigéria e abarcam cerca de 40 milhões de pessoas. Na diáspora africana nas Américas encontra-se reminiscências yorubanas no Brasil, Cuba, Porto Rico, Trinidad-Tobago e Haiti. 

2.6 Organização Sócio-política-religiosa:
Antes da colonização inglesa, os Yorubás constituíam uma federação de cidades-estado tendo como centro Ilé-Ifé (Ifé) fundada por um chefe guerreiro de nome Oduduwa. 

É difícil estabelecer com exatidão a época dessa migração,  mas a arqueologia estima que ela tenha ocorrido entre os anos 500 a.C e 400 de nossa era. É provável que esse deslocamento tenha ocorrido paulatinamente durante várias gerações. 

Por volta do ano 900 d.c, a cidade-Estado de Ile-Ifé (Ifé) se  auto-proclamou como uma potência dominante de várias cidades que circundavam Ilé-Ifé. Ressalta-se que essas cidades eram portadoras de uma destacada complexidade político-cultural. 

Assim, a cidade de Ifé se converteu no centro cultural e religioso de várias populações que a cercavam, as quais passaram a reconhecer a cidade de Ifé como primaz na emanação de poderio. 

Ifé estendeu sua influência e poderio para povos importantes que ficavam bem ao sul da Nigéria tais como os Igbós e Edos. E cada nova cidade-Estado que passava a integrar a federação iorubana recebia como chefe um Obá, cujo cargo representa uma forma de monarquia hereditária. 

Para se tornar um Obá era necessário que o postulante passasse por um processo iniciático que o tornava um descendente espiritual de Oduduwa. Aliás todos os demais dignitários deveriam passar por rituais de iniciação, posto que as instituições políticas da tradição iorubana são intimamente ligadas às instituições religiosas tradicionais de seu povo. Ambas  sobreviveram sob o governo colonial inglês na Nigéria e continuam a funcionar até nossos dias. 

Seguindo o mito de criação, os descendentes de Odudua foram, então, os fundadores dos primeiros reinos iorubas. Entre esses reinos, que deram origem a outros tantos, estão Owó, Queto, Benin, Savê, Popó, Oió, Ijebu-Odé, Ilexá, Ondô, Aquê, e Ado-Equiti. E por isso que nos rituais de entronização de novos Obás, todas essas cidades-estados reafirmavam suas ligações com Ifé. Paramentos e insígnias deveriam ser enviadas ao Oni de Ifé (Rei de Ifé) para serem consagrados com o Axé, a força vital divina, de Oduduwa.

Ao ascender ao poder, o novo soberano da cidade (Obá) enviava um mensageiro ao Oni para comunicar-lhe a morte do antecessor e pedir-lhe que o confirme como Obá.O Oni, escolhido por um conselho de chefes liderados pelo Ouá, governante dos ijexás, representava tanto a confederação das cidades, quanto as comunidades e, sobretudo, as divindades. Quando o Oni morria, juntava-se aos Orixás. Assim, o Oni não era um simples sacerdote ou ritualista, mas o símbolo da unidade e a cabeça que conduz o corpo político de seu povo. 

Muitas das cidades-estados eram controladas pelos Obás, além de ministros nomeados por nobres, líderes e comerciantes. Outras cidades tinham monarcas poderosos e semi-autocráticos, os quais tinham um controle quase total. Em outras, os Obás eram apenas figuras importantes e deveriam, em ambos os casos, seu poder ao Oni de Ifé. 

O Oni de Ifé detinha os poderes religiosos que confirmavam e sacramentavam a entronização de cada um dos Obás, os quais periodicamente, iram até sua presença para as obrigações rituais que confirmavam seus laços com os Eborás (Sociedade Egugun), ancestrais primevos, violentos e perigosos. Até mesmo o Alafin de Oió, quando assumia o poder, enviava a espada-símbolo de sua realeza (o agadá) a Ifé, para lá receber o Axé de Odudua.

Logo, o poder do Oni é a emanação do poder espiritual dos eborás, maior e mais forte do que qualquer tipo de poder físico. Assim, um Oni, depois de consagrado, passa a ocupar a posição de senhor do Axé (alaxé), imediatamente abaixo dos eborás: e quando morria, o Oni passava a integrar o panteão dos eborás.

Fonte: Projeto Abá - Estudos Africanos e Afro-Americanos - Para estudar a História da África - Universidade Estadual de Goiás

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