sexta-feira, 12 de outubro de 2012


Advogado critica voto nulo e branco


Além de advogado, Leonardo dos Anjos é professor da Unipê

O advogado e professor da Unipê, Leonardo dos Anjos, criticou, nesta quarta-feira (10), em crônico, o voto em branco ou nulo. “Só poderemos escolher abrir mão da democracia depois do dia em que finalmente todos nós chegarmos a experimentá-la em sua plenitude. Ainda é muito cedo para que dela desistamos”, disse.
Na última segunda-feira (08), após a divulgação do resultado do primeiro turno das eleições, a primeira do Estado, Pâmela Bório, causou polêmica a defender, nas redes sociais, o voto nulo no segundo turno do pleito na Capital.
Veja a crônica na integra:
Eles que são brancos e nulos que se entendam.
Outro dia, ao tomar ciência da grande proporção de votos brancos, nulos e abstenções, a partir de uma conversa com um amigo, fiquei sem entender quais motivos levariam uma pessoa a achar que esse protesto surtiria algum efeito benéfico para o lugar onde moram e para as pessoas com quem convivem…
Fiquei pensando... Será que essas pessoas têm razão em votar nulo, não comparecer ou votar em branco? Será que o voto delas não merece ser destinado a seres humanos passíveis de cometerem erros, gafes, desvios, improbidades, abusos de poder etc... Será que pensam que o voto daqueles que são facilmente ludibriados por serem pessoas ingênuas, ou daqueles que vendem seus votos, não sejam mesmo dignos de estar na mesma urna onde estariam os votos dessas pessoas que protestam dessa forma. Talvez essas pessoas já tenham sofrido traumas irrecuperáveis, ou mesmo ficado decepcionadas com aqueles que julgavam ser bons representantes. Por isso talvez achem que seja mesmo melhor criar uma forma alternativa de democracia onde o "não voto" seja considerado uma postura mais prudente e engajada do que se envolver, procurando se informar do currículo, credibilidade, boa gestão pública, real engajamento social, vida pregressa limpa e histórico de representatividade de algum candidato.
A política não pode ser vista como algo alheio, como se as pessoas que lá estão fossem diferentes de nós. São pessoas comuns, que só estão lá porque outras pessoas comuns votaram nelas. Eu não entendo essa opção por tentar fazer com que haja um voto de protesto para que supostamente “eles” vejam a nossa insatisfação e mudem alguma coisa em suas condutas. Como se por acaso o “eles” fosse uma classe sagrada perpétua que não possa ser mudada. Ora, se esses que protestam não votando acham que esses políticos só são capazesde ouvir a insatisfação do eleitor desta forma, então por que não votar em outros políticos? Afinal, quando se diz que “todo politico é igual”, é porque “todo eleitor é que é igual!”
Eu pergunto: e depois desse protesto? Por acaso os cargos públicos vão ser declarados extintos por falta de representantes? Será que depois dessa "sacudida", como num passe de mágica, brotarão bons candidatos em quem poderemos votar felizes para sempre? Ou o melhor é tentar fazer com que as instituições democráticas se aperfeiçoem pouco a pouco com a seleção natural das melhores pessoas para funções públicas? Será que eles acham que a democracia vai ser uma dádiva divina a nós oferecida por esses seres sagrados a quem pretendem apenas “pregar uma peça” com esse protesto mixuruca, ou nós mesmos teremos de conquistá-la, tomando parte nesse processo?
Pensei cá com meus botões... Talvez a melhor forma de protesto seja de fato votar em "ninguém". Talvez o "ninguém" em quem eles votam possa ser muito mais ativo na melhoria da cidade, estado ou país. Mas, talvez, depois de “eventualmente” não aprovarem o resultado do mandato do "ninguém" em que escolheram votar, talvez passem, como nova forma de protesto ainda mais radical, a votar em "alguém", só pra dar uma nova mobilizada, uma sacudida nas instituições. Afinal, talvez “alguém” possa fazer alguma coisa pelo lugar onde moram... Mas só talvez. Será? Ah... eles que são brancos e nulos que se entendam...
Na prática, votar já se tornou facultativo e é por isso que cada vez mais não tomar parte na vida política que acontece no lugar que se escolheu para viver é dar carta branca para quem quer que vá cuidar desse lugar fazer o que quiser.
Só poderemos escolher abrir mão da democracia depois do dia em que finalmente todos nós chegarmos a experimentá-la em sua plenitude. Ainda é muito cedo para que dela desistamos.
Leonardo dos Anjos

Da Redação
WSCOM Online

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