Desafio agora é a luta contra a miséria
Sob o domínio do poder paralelo, a população de Manguinhos convivia com falta de infraestrutura e coleta de lixo. Moradores dividiam espaço com urubus e ratos
Rio -
O cenário parece incompatível com uma região que está a pouco minutos
do Centro do Rio. Ao ser libertada do tráfico, Manguinhos mostrou uma
das faces mais cruéis do domínio do poder paralelo: o território deserto
de ações básicas de saneamento, onde serviços como coleta de lixo,
calçamento, iluminação e esgoto nunca chegaram.
A pobreza absoluta é sentida no ar, fétido pela decomposição de animais mortos e línguas negras que saem dos barracos e deixam expostos fezes, restos de alimentos e entulhos. Nas ruas de lama, crianças dividem o espaço com urubus, ratos e porcos. A imagem é de caos e miséria extrema.
“Minha casa
vive infestada de baratas e ratos. Ontem (sábado), eu estava dormindo
no quarto e acordei com um rato caindo na minha cabeça”, conta a
moradora de Manguinhos, a dona de casa Fátima Pereira, 52 anos. “Meus
filhos já tiveram leptospirose duas vezes e tuberculose”, completa ela.
Manguinhos tem o 5º pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Rio,
uma coletânea de dados que mede a qualidade de vida dos lugares.
Um lixão a céu aberto na localidade João Goulart, atrás da estação ferroviária, atrai dezenas de animais, que se alimentam de lixo. Ao lado da montanha de entulho, cerca de 100 casas amontoadas — a maioria no reboco — dividem espaço com um valão, que transborda sempre quando chove e exala mau-cheiro.
Na Rua Nossa Senhora de Aparecida, ao lado da Estação de Manguinhos, um
poste caído em uma viela há um mês deixa moradores apreensivos. Para
cruzar o local, as pessoas precisam passar agachadas. “Vivemos no meio
da imundície”, afirma a auxiliar de serviços gerais Andréa Lopes, 42
anos, que mora na comunidade. “Ganho um salário mínimo por mês. Não
tenho outra opção de onde morar, mas pretendo alugar minha casa assim
que chegar a UPP. Quero pedir uns R$ 600 por mês”, avalia.
PERDA DA DIGNIDADE
A miséria é agravada pela venda de crack. Centenas de usuários perambulam em busca da droga. Na ânsia de satisfazer
o vício, eles perdem completamente a noção de realidade, a dignidade e
ficam no chão, enrolados em lençóis ou abordam quem passa em busca de R$
0,10 para comprar pedra e fumar.
“Fiquei triste ao ver uma criança jogada no chão e sendo destruída pelo vício maldito. Tenho um filho de 11 anos e trabalho todos os dias para dar a ele o melhor. Não há perspectiva de vida para estas pessoas”, disse, chorando, o motorista da Comlurb Antônio Francisco de Brito, 50 anos, que largou o que estava fazendo para amparar o menino viciado, que estava no chão, envolto a panos velhos e sujos.
A metade do complexo de favelas vive com R$ 70
A região é uma das mais miseráveis do Rio. Segundo dados do Laboratório de Direitos Humanos da RedeCCAP (Centro de Cooperação e Atividades Populares), cerca de 50% das famílias quem moram no Complexo de Manguinhos, formado por 14 comunidades, vivem em situação de extrema pobreza, com rendimento per capita de até R$ 70 por mês. Outras 20% estão em condição de miséria, sem rendimento. A maioria, 70%, é considerada pobre, vivendo com meio salário-mínimo.
Sem Ensino Fundamental
O relatório do Laboratório de Direitos Humanos, feito ano passado, mostra outras descobertas. Menos de 2% dos moradores de Manguinhos chegaram à universidade. O acesso à educação, nesta região, só começa na década de 80. Uma demonstração deste déficit se deu no processo de inscrição de estudantes no Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila, de Ensino Médio. Como houve baixíssima procura, a direção foi a campo para entender o motivo. Descobriu-se que a grande maioria não tinha conseguido completar o Ensino Fundamental e, por isso, não podia cursar o Ensino Médio.
PMs do Bope dão grito de guerra antes da operação. Veja o vídeo:
Construção de 9 mil moradias
A partir de amanhã, as polícias Civil e Militar vão fazer operações diárias no Jacarezinho. A PM vai atuar dentro da comunidade e a Polícia Civil, no entorno para coibir o consumo e tráfico de crack.
O governador Sérgio Cabral anunciou investimentos
de R$ 100 milhões em infraestrutura na região. Casas e terrenos serão
desapropriados para construção de 9 mil apartamentos. “Vamos entrar com o
projeto ‘Minha Casa, Minha Vida’ com habitações novas, que vão dar
dignidade para as pessoas que ali moram”, disse.
Do total, duas mil moradias serão construídas na área antes ocupadas pela General Eletric. O terreno já está sendo descontaminado e, em breve, poderá ser usado para construção.
Cabral informou que vai desapropriar a Refinaria de Manguinhos, para
que o espaço seja usado pela população. A Praça da Cidadania do
Jacarezinho vai receber cine-teatro com 250 lugares e cinema 3D. O local
abriga biblioteca com 27 mil livros e 5.500 sócios.
Reportagens de Alessandra Horto, Angélica Fernandes, Christina Nascimento, Diego Valdevino
A pobreza absoluta é sentida no ar, fétido pela decomposição de animais mortos e línguas negras que saem dos barracos e deixam expostos fezes, restos de alimentos e entulhos. Nas ruas de lama, crianças dividem o espaço com urubus, ratos e porcos. A imagem é de caos e miséria extrema.
Com a chegada das tropas da pacificação, o cenário encontrado era de abandono | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
Um lixão a céu aberto na localidade João Goulart, atrás da estação ferroviária, atrai dezenas de animais, que se alimentam de lixo. Ao lado da montanha de entulho, cerca de 100 casas amontoadas — a maioria no reboco — dividem espaço com um valão, que transborda sempre quando chove e exala mau-cheiro.
Foto: Léo Corrêa / Agência O Dia
Ocupação de Manguinhos e Jacarezinho
Agentes da Polícia Civil ocupam a Favela do Jacarezinho
“Fiquei triste ao ver uma criança jogada no chão e sendo destruída pelo vício maldito. Tenho um filho de 11 anos e trabalho todos os dias para dar a ele o melhor. Não há perspectiva de vida para estas pessoas”, disse, chorando, o motorista da Comlurb Antônio Francisco de Brito, 50 anos, que largou o que estava fazendo para amparar o menino viciado, que estava no chão, envolto a panos velhos e sujos.
Blindado entra na linha férrea do Jacarezinho | Foto: Ernesto Carriço / Agência O Dia
A região é uma das mais miseráveis do Rio. Segundo dados do Laboratório de Direitos Humanos da RedeCCAP (Centro de Cooperação e Atividades Populares), cerca de 50% das famílias quem moram no Complexo de Manguinhos, formado por 14 comunidades, vivem em situação de extrema pobreza, com rendimento per capita de até R$ 70 por mês. Outras 20% estão em condição de miséria, sem rendimento. A maioria, 70%, é considerada pobre, vivendo com meio salário-mínimo.
Sem Ensino Fundamental
O relatório do Laboratório de Direitos Humanos, feito ano passado, mostra outras descobertas. Menos de 2% dos moradores de Manguinhos chegaram à universidade. O acesso à educação, nesta região, só começa na década de 80. Uma demonstração deste déficit se deu no processo de inscrição de estudantes no Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila, de Ensino Médio. Como houve baixíssima procura, a direção foi a campo para entender o motivo. Descobriu-se que a grande maioria não tinha conseguido completar o Ensino Fundamental e, por isso, não podia cursar o Ensino Médio.
PMs do Bope dão grito de guerra antes da operação. Veja o vídeo:
Construção de 9 mil moradias
A partir de amanhã, as polícias Civil e Militar vão fazer operações diárias no Jacarezinho. A PM vai atuar dentro da comunidade e a Polícia Civil, no entorno para coibir o consumo e tráfico de crack.
Do total, duas mil moradias serão construídas na área antes ocupadas pela General Eletric. O terreno já está sendo descontaminado e, em breve, poderá ser usado para construção.
Reportagens de Alessandra Horto, Angélica Fernandes, Christina Nascimento, Diego Valdevino
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