quinta-feira, 30 de maio de 2013

Mesmo com PIB fraco, BC acelera ritmo de alta e fixa juro em 8% ao ano

Foi o 2º aumento seguido, que levou juros ao maior patamar em um ano.
Decisão foi tomada por unanimidade pelos membros do Copom.

Alexandro Martello Do G1, em Brasília


Selic 29 de maio 8 matéria (Foto: Arte G1)
O fraco desempenho do PIB, que avançou somente 0,6% no primeiro trimestre deste ano, não impediu o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de acelerar o ritmo de aumento dos juros com o objetivo impedir uma alta maior da inflação – mesmo "freando" mais a economia brasileira.
A autoridade monetária anunciou, na noite desta quarta-feira (29), uma elevação de 0,5 ponto percentual na taxa básica da economia, de 7,5% para 8% ao ano. A decisão da diretoria do BC foi unânime. Em abril, os juros haviam subido menos: 0,25 ponto percentual.
Com isso, o BC confirmou o tom mais duro adotado na semana passada pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini, que afirmou que a autoridade monetária está “vigilante” e fará o que for “necessário” para reduzir a inflação.
Esse foi o segundo aumento consecutivo promovido pelo Banco Central na taxa de juros, que atingiu o maior patamar desde maio do ano passado, quando estava em 8,5% ao ano. A expectativa do mercado financeiro é de que a taxa básica da economia brasileira volte a subir no decorrer deste ano, terminando 2013 em 8,25% ao ano.
Expectativa do mercado
A expectativa do mercado financeiro nesta terça-feira, um dia antes da reunião, refletida na curva de juros do mercado futuro, era de que o BC promovesse uma elevação justamente de 0,5 ponto nos juros, para 8% ao ano. Após o anúncio do PIB, o mercado ajustou para baixo suas apostas e a curva de juros passou a "embutir" uma alta menor no curto prazo, entre 7,5% e 8% ao ano – mostrando divisão nas apostas das instituições financeiras no mercado futuro.
Após a reunião, o BC divulgou o seguinte comunicado: "Dando prosseguimento ao ajuste da taxa básica de juros, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 8,00% ao ano, sem viés. O Comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano".
Sistema de metas e objetivo do BC
Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o IPCA. Ao subir os juros, o BC atua para controlar a inflação e, ao baixá-los, julga, teoricamente, que a inflação está compatível com a meta. Para 2013 e 2014, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Entretanto, o próprio Banco Central tem previu, no relatório de inflação divulgado no fim de março, um IPCA próximo de 6% neste ano. Os dados mostram que a instituição manteve a taxa básica de juros inalterada na mínima histórica, em 7,25% ao ano desde outubro do ano passado, elevando-a somente em abril, mesmo com a deterioração do cenário de inflação registrado no primeiro trimestre deste ano.
Em abril, o IPCA somou 0,55% e, no acumulado do ano, ficou em 2,50%, acima dos 1,87% relativos a igual período de 2012. No acumulado em 12 meses até abril deste ano, o IPCA teve alta de 6,49% e, assim, ficou no limite do teto da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, que é de 6,5%.
Entre 1999 e 2012 (considerando todos os anos), desde o início do sistema de metas de inflação brasileiro, o IPCA médio somou 6,69%, enquanto que a meta central "média" do mesmo período foi de 4,60%.
"No dicurso, eles falam em inflação mais baixa a partir do segundo semestre. Antes, diziam que seria abaixo do ano passado [5,84%], mas eles retiraram isso. Eles querem que a inflação desacelere no segundo semestre e assim continue no ano que vem, mas não te dão o nível. É uma convergência [para a meta central de 4,5%] mais gradual do que o mercado gostaria", avaliou Rodrigo Melo, economista da Mauá Investimentos.
Rendimento da poupança
Com o novo aumento dos juros básicos por parte do Banco Central, a rentabilidade da caderneta de poupança também subiu. Pelas regras definidas pelo governo no ano passado, a poupança passou a ser atrelada aos juros básicos da economia, rendendo 70% da aplicação, mais a Taxa Referencial, quando a taxa básica estiver abaixo de 8,5% ao ano. Isso para aplicações feitas de 4 de maio de 2012 em diante.
Com juros em 7,5% ao ano, antes da decisão de hoje, a poupança estava sendo remunerada em 5,25% ao ano mais TR. Com o aumento da taxa básica de juros pelo BC para 8% ao ano, a poupança passou a render 5,6% ao ano, mais TR.
Antes da mudança das regras, em abril do ano passado, a poupança rendia, pelo menos, 6,17% ao ano, mais TR. Na poupança, porém, não é cobrada taxa de administração e nem Imposto de Renda (IR) - ao contrário dos investimentos em fundos. Os recursos podem ser sacados a qualquer momento.
Com a Selic atual [8% ao ano] a poupança vai ter um rendimento superior aos dos fundos na maioria das situações, segundo levantamento feito pela Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Mesmo com rendimento mais baixo, perdendo para a inflação em 2012, especialistas avaliam que a a nova caderneta de poupança ainda é uma boa opção de investimento para pequenos poupadores, para pessoas que buscam aplicações de curto prazo ou que procuram formar um "fundo de reserva" para emergências – uma vez que não há incidência do IR.
Juros reais
Com o aumento da taxa básica para 8% ao ano, o Brasil passou a ter juros reais (após o abatimento da inflação prevista para os próximos 12 meses) de 2,1% ao ano, com alta de 0,5 ponto percentual, segundo levantamento do MoneYou.
Com isso, a taxa brasileira ficou em quarto lugar no ranking mundial de juros reais, abaixo da China, da Rússia e do Chile. A taxa real de juros de 40 países pesquisados pelos economistas está negativa em 0,5% ao ano.

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